quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Lições de Mãe Luiza

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Lições de Mãe Luiza
O que não tem remédio remediado está
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O que não tem remédio, remediado está (1)
A comunidade de Mãe Luiza ao longo dos anos de sua existência ficou resguardada e restrita. Isolada e ilhada no Morro de Mãe Luiza. O topo de uma ilha nômade em um mar de areias que se movimentam com os ventos e as variações das marés ao longo da costa potiguar. Formando, removendo e recriando novas ilhas, as dunas.  
Com a vegetação e população rasteira enraizada, criou suas próprias raízes, e deu estabilidade ao morro, que deixou de ser nômade. Ganhou status de bairro, fixando-se entre o mar e a cidade. Entre o mutável e o imutável, entre um espaço que o homem modifica e outro que o homem tenta entender, saber utilizar, e não temer.
Comodidades e facilidades vistas lá de cima. Com 37 metros de altura são necessários uma centena e meia, de degraus para chegar a seus olhos que enxergam a mais de 40 km das praias natalenses, cobrindo parte da costa potiguar, desde 1951. E uma estrela de cinco pontas estendida na areia, e perto do mangue, na esquina da praia, junto à foz do rio Potengi lhe dá proteção, bem antes de sua construção.
Mãe Luiza do topo do morro, com seu nome, e seu olhar de 360 graus, por ora deslumbrava o mar por ora deslumbrava a terra. Uma hora olha para a Zona Sul e outra hora olha para a Zona Norte, ora para a Zona Leste e ora para a Zona Oeste. Todos os pontos cardeais passam pelo olhar de Mãe Luiza, quer seja de dia, ou de noite. Com a Rosa dos Ventos a seus pés cumpre seu olhar ritmado de vigilância. Sua preocupação maior é avisar e sinalizar para quem está distante na imensidão do mar e na escuridão da noite.  
Embora esteja mais preocupada em avisar quem esteja distante, está atenta a seus filhos que estão próximos a seus pés. Está localizada entre a ponta do Calcanhar e a ponta do Cotovelo, na região lombar de um enorme elefante. Os glúteos do paquiderme participam da flora local e da flora intestinal. Pontos de vistas geográficos e anatômicos. A fisiologia do corpo e do terreno; esotéricos, com pontos de vistas climáticos e sazonais.
Ao longo dos anos Mãe Luiza soube viver e conviver, sem urbanização e sem as facilidades da vida urbana e suas modernidades. Mas quem desce do morro não morre no asfalto. Sobreviveram com suas dificuldades criando suas próprias estratégias, facilidades para obter comodidades da vida moderna.  
Antes de serem teorizados os conceitos de geração e gestão de resíduos, já implantaram a teoria dos 3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. E assim construíram suas residências, reunindo as pessoas, reduzindo custos, reutilizando materiais e reciclando ideias. Enquanto não tiveram água e luz, economizaram em benefício da cidade. Economizaram gastos com saneamento e calçamento; atendimento e medicamento. E ajudaram a produzir bens.
O que Mãe Luiza avistava de longe, seus filhos podiam ver de perto. Moradores ao descer para trabalhar e se deslocar, em compras e passeios, podiam ver as melhorias e as mudanças que a cidade passava. Observaram mudanças ao longo dos anos, e mudanças às vésperas da Copa 2014. E lá longe onde era uma lagoa ainda nova,
formou uma duna artificial, e uma lagoa de luz.  Em dias de festa canhões de luz disparam feixes coloridos para todas as direções. Mas não alcançam o oceano que chega junto de Mãe Luiza.  
Mãe Luiza avistou as chegadas dos turistas antes dos canhões de luz da Lagoa Nova. Turistas que chegaram pelo mar e pelo ar. Um turista devoto de Nuestra Señora de Guadalupe, a Imperatriz da América (2000), Senhora dos Céus, deixou sua embarcação e lançou-se ao mar (jun/2014), e só Mãe Luiza pode saber onde ele se encontra.
Os pobres ao longo da história sempre ocuparam áreas desprezadas e renegadas pela colonização e pela urbanização. Ocupam morros e depressões, mangues e alagados, encostas e dunas. Natal/RN, não fugiu a regra da urbanização, não sobrou espaço ao nível do mar. Entraram na Mata do Bode imaginando um Novo Mundo. Em busca de um lugar mais perto do céu, junto com uma parteira, Mãe Luiza. As populações que vieram do interior, como mariposas, foram atraídas pela luz do farol.
A engenharia e a tecnologia tornaram fáceis os acessos a lugares antes inatingíveis. Com dinheiro e mobilidade puderam tornar lugares inacessíveis em locais aprazíveis. Resultado: pobres com vista para o mar e em área nobre. E por estarem localizados em uma área nobre, ela passou a ser cobiçada por olhares pobres. Pobres de imaginação e pobres de inovação.  
Ao longo da história as classes dominantes se apropriam de ideias das classes menos favorecidas. Enquanto o pobre joga partidas de peladas no meio das ruas com uma bola improvisada, a classe dominante desapropria espaços para modernas arenas. Futebol e carnaval deixam de ser capital cultural do povo para ser estratégia de dominação.  
Uma classe dominante, sobre uma classe menos privilegiada. Aguardente e pinga ganham rótulo e embalagem diferenciada para ser cachaça de rico. Squash um jogo criado em celas de penitenciárias, ganhou uniforme alinhado e raquetes de carbono para serem usadas em quadras com ar condicionado.
A natureza é sábia, providenciou e abriu uma rua, para Mãe Luiza descer em direção ao mar. Uma rua entre dois prédios de luxo, desembocando na avenida beira mar. Um dia distante desbravadores desembarcaram na praia. E Mãe Luiza chegou com suas areias de volta as praias.
Entre Natal e Parnamirim/RN ─  22/06/2014

O que não tem remédio, remediado está. (2)
Os quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Podem se combinar entre si ou destruírem-se entre si, tudo depende de um ponto de vista: de um lugar, de uma situação e de um momento. Terra com fogo e água inspirados pelo vento. Fogo morro acima, e água morro abaixo, são situações difíceis de conter e controlar. O fogo sobe rapidamente ardendo tudo que encontra pela frente, por vezes soprado pelo vento. A água desce, pela ação da gravidade provocando erosão, ao escoar abrindo caminhos para sua passagem. E com o vento desespera a todos, carregando bens e pertences.  
Um ciclo natural: as águas evaporadas se precipitam, correm pelos divisores de água, se encaminham para os rios, e os rios desembocam no mar. E ensinou Luiz Gonzaga, “O riacho do Navio; corre para o Pajeú; o rio Pajeú vai despejar no São Francisco; e o rio São Francisco vai bater no meio do mar”. Fechando assim o ciclo natural da água: evaporação, condensação e precipitação. Mãe Luiza alertando os navios e mais o riacho do Navio, por muito tempo, ficaram sem rádio e sem notícias das terras civilizadas.
Um ciclo natural existe, e sabia-se sobre o período de chuvas na região. Em Mãe Luiza o homem não se precipitou em criar segurança, e a água precipitou do céu, e assim criando precipícios no morro. Mas a natureza é sabia, destrói criando e dando condição de um recomeço. Destrói sob o ponto de vista de quem perdeu, constrói sob o ponto de vista da evolução, das coisas e das necessidades do mundo, do momento. As intempéries e os desígnios de Deus, pela compreensão dos homens e das companhias seguradoras. A evolução finaliza para um novo recomeçar.  
Natal é natalício e nascimento. Recomeço é renascimento. Desde o dilúvio bíblico, uma lição ficou, a preparação e o recomeço. Antes do dilúvio Noé recebeu uma mensagem do céu. A meteorologia observa e analisa o céu, e faz previsões antecipadas de chuvas para o período. Noé como líder, construiu uma arca para conter sua família e seus animais, seus bens materiais e imateriais. E as lideranças informadas pela meteorologia não construíram grandes arcos de contenção, nas encostas, para proteger seu povo e seus bens, tangíveis e intangíveis.  
A natureza sábia destruiu o morro, mas providenciou uma rua, mostrou uma saída, um novo começo, para Mãe Luiza. Descer em direção ao mar, na direção que o farol ilumina e alerta aos navegantes. Uma rua entre dois prédios de luxo, desembocando na avenida que beira o mar. Um dia distante desbravadores desembarcaram na praia. Tudo é um ciclo que precisa ser compreendido. As dunas são formadas a partir das praias, com ações dos ventos e das marés.  
E Mãe Luiza chegou com suas areias de volta ás praias. Formando uma Mãe Preta com Areia de Luiza, na mistura de terra e mar, com silvos de ventos em águas
turvas e areias pedrosas, provocando um impacto ambiental e impedindo um índice ideal de balneabilidade. Tal como o povo, Mãe Luiza, desceu saindo de uma suposta zona de conforto, também foi às ruas. E assim declarou aos quatro ventos e aos três poderes, em suas zonas de conforto, suas necessidades sociais e urbanísticas. Depois de muitas deglutições e indigestões, infecções e infestações, como uma diarreia paquidermiana.
Natal é reconhecidamente formada por dunas fixas e dunas móveis. Dunas móveis por ação dos ventos e das marés. Dunas móveis que se tornaram fixadas pela vegetação que ali se instalou. Com a flora enraizada, se estabelece a fauna. E Mãe Luiza se instalou e se fixou, com suas filhas gerando descendentes, Floras e Faunas, flores e frutos, para que a enorme duna alinhada à praia se tornasse uma duna móvel,ou fixa.  
Mas a geografia e a geologia, assim como a Terra, estão sempre em movimento, aliadas a climatologia e a meteorologia vão movimentando, misturando-se entre si. E Mãe Luiza foi alterando suas formas e composições. Para estabelecer um acampamento, é preciso analisar o terreno antes de ocupar. É preciso planejar uma rota de fuga em situação de emergência. E Mãe Luiza fez; se instalou e planejou uma rota de fuga.  
Com ajuda das chuvas e colaboração de redes de saneamento e abastecimento abriu sua rota de fuga. Lançou seu tapete de areia entre dois prédios na orla. Abriu passagem para seus moradores descer. Uma passagem tomada pelo tempo e pelas construções, com ferro, tijolos, cimento e areias, misturados e empilhados. Tomada por aqueles que cobriram sua vista para o mar. O mar da imensidão, do infinito. O mar que é o caminho para quem chega e quem sai. O mar que um dia os descobridores chegaram, e como colonizadores voltaram. Como soldados chegaram e se instalaram, depois partiram e ainda podem voltar.
Entre Natal e Parnamirim/RN ─  29/06/2014


O que não tem remédio, remediado está. (3)
Mãe Luiza (bairro) ficou excluída da Copa, na programação cultural da Copa e no guia do torcedor. Ficou oculta entre Petrópolis e Tirol. Tornou-se um morro em branco para novas descobertas. Cartolas e carolas devem ter entendido que só as belezas naturais locais eram mais sensuais. As obras artificiais construídas eram mais imbuídas, para um evento internacional, e também deveriam ser mostradas. Mas Mãe Luiza não se intimidou diante uma federação internacional com filmagens artificiais, com regras e lentes digitais. Mãe Luiza ficou ilhada, filmando e avaliando, uma federação internacional com foco nos amadores.  
Façanhas inteligentes para filhos amadores; filhos indígenas com flechas e arcos. Formadores internacionais com focos em um alunado. Com forças de inteligência e forças armadas chegaram. Uma febre internacional desembarcou prometendo futebol e acessibilidade; fortalecimentos imensuráveis e futebol em arenas; festas internacionais com festejos abertos. Revivendo a presença dos americanos, onde e quando as festas eram para todos (fest inter and for all). A força internacional juntou fãs em festas para santos e reis. Promoveu festas internacionais com foco artesanal. Uma força de infantes para forças de amantes, de um futebol inteligente para um futebol no ambiente.
Mas no meio do caminho tinha uma ponte, e tinha uma ponte no meio do caminho. A caminho da arena tinha uma ponte com uma festa de um lado e lagoas transbordando com as águas das chuvas, do outro lado. A chuva que molhou um lado encharcou e inundou no outro. Tal como a moeda tem dois lados, a cara e a coroa, Natal tem dois lados, tem a Zona Norte e a Zona Sul. Com tantas diferenças, que por vezes se entende que a Zona Norte é outro mundo, e não pertence a Natal. Fato notório nos discursos de radialistas e motoristas. Uma terceira ponte para uso exclusivo do transporte público, antes de ser planejada, já é criticada por uns radialistas e muitos motoristas.  
Natal foi uma das cidades brasileiras sede da Copa do Mundo 2014. Outros povos já passaram por Natal, com mais evidências do português, do holandês e do americano, com algumas evidências dos franceses. Agora com a Copa do Mundo em tempos de paz, todos estiveram presentes em um ato de confraternização. Um campo sem batalhas ou muralhas, onde se trocou as balas de canhão, que eram bolas de ferro, por bolas mais leves, recheadas de ar, com artilheiros e zagueiros disputando em campo. E Mãe Luiza não perdeu a oportunidade de mostrar, diante de lentes e câmeras, sua existência e suas exigências, seus problemas durante a Copa.
Em época de Copa do Mundo Mãe Luiza, no lado sul, soube mostrar sua técnica e seu gingado, com muita ginga e precisão em driblar um, e driblar
outro. Correu por um lado e depois correu por outro. Desceu o morro e passou entre dois zagueiros. Dois zagueiros estáticos edificados na área nobre. Mão Luiza cruzou a área nobre sem fazer falta, evitando ser marcado um pênalti. Os zagueiros continuam em pé no mesmo local. Mãe Luiza chegou à linha costeira, sem cometer a penalidade máxima. Entrou com bola e tudo; areia e entulho, lixo e metralha; águas potáveis e servidas.  
Em época de Copa do Mundo Mãe Luiza enfeitou sua Rua Guanabara, palavra de origem indígena que significa seio de mar. Enfeitou sua Rua Atalaia, o refúgio do vigia que observa a chegada dos inimigos. Com resiliência enfrentou catástrofes naturais e problemas artificiais.
Cada dia fica mais evidente a globalização, não só da informação e da comunicação via internet, com as denominadas TICs. Há uma tendência em unificar o mundo, tornar único, um sonho universal. A globalização vem em um processo mais evidente, desde a época dos descobrimentos, dando início ao processo de miscigenação. Uma mistura de raças e espécies, conhecimentos e informações. Para uma troca dos usos e dos costumes, de produtos e mercadorias, evoluindo para serviços e novas ideias.  
A força centrífuga e a força centrípeta, geradas pelos movimentos de rotação e translação da Terra vão misturam ideias e ideais. Daí a necessidade clara de abandonar o heurístico migrando para o holístico. Um fato precisa se analisado por diversos ângulos, diversos pontos de vista.  
E Mãe Luiza lá do alto não tem obstáculo para impedir suas visões, para todas as direções, a partir dos seus pontos de vista, a partir do lugar onde se localiza. Todo ponto de vista, é a vista de um ponto, e cada um enxerga a partir do lugar onde pisa.  
Entre Natal e Parnamirim/RN ─  06/07/2014





Palavras Chaves: gestão; qualidade; conhecimento

Palabras Clave: gestión; la calidad; el conocimiento

Key Words: management; quality;  knowledge

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RN,13/10/2016

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